Por David Canassa, diretor da Reservas Votorantim
Enquanto as principais economias do mundo terão que empregar grandes esforços em missões complexas como a de deixar de produzir eletricidade a partir da queima de combustíveis fósseis, a principal contribuição do Brasil para frear o aquecimento global é conservar e restaurar suas florestas. Colocado lado a lado, o efeito comparativo pode dar impressão de que o desafio brasileiro poderia ser muito mais simples. “Poderia” porque, na prática, reflorestar os 12 milhões de hectares previstos no Acordo de Paris exige de um lado, que o país desenvolva mecanismos de mercado que estimulem a conservação e o reflorestamento e, de outro, desenvolva uma cadeia produtiva sólida e inclusiva capaz de atender tamanha demanda.
As diferentes facetas dessa cadeia, por si só, são uma pequena demonstração de que não há como ser simples refazer o que a Terra levou bilhões de anos para desenvolver em equilíbrio. A produção de mudas, por exemplo, precisa levar em conta a diversidade – que pode chegar a 20 mil espécies em biomas como Amazônia e Mata Atlântica – e os diferentes tempos de desenvolvimento que cada planta leva até chegar ao estágio ideal para plantio.
E, considerando que são necessárias pelo menos 1.600 mudas por hectare, onde produzir um volume tão grande e como transportá-lo até o local de destino? Como desenvolver protocolos de produção e plantio, levando em conta a diversificação? Onde encontrar tanta mão de obra e como qualificá-la? Há mais de dez anos a Reservas Votorantim trabalha para responder essas questões, com priorização de mão de obra local e a criação de dois Centros de Biodiversidade que, juntos, têm capacidade de produzir 450 mil mudas por ano de plantas nativas da Mata Atlântica e do Cerrado.
Assim como em cadeias produtivas tradicionais, também devemos lembrar a importância de pesquisa e desenvolvimento.O Brasil soube fazer isso muito bem com espécies vegetais com status de commodities, como a soja e o eucalipto, e a atuação fundamental de um órgão como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Se tivemos resultados tão positivos com espécies exóticas, se endereçarmos esse desafio, temos a capacidade de fazer o mesmo com nossas espécies nativas: acelerar seu desenvolvimento para a produção ser capaz de atender a demanda e torná-las mais resistentes, evitando as perdas após o plantio – já que a taxa de sucesso, dependendo das condições das plantas, do solo e topografia, pode chegar a 50%.
Duas variáveis são determinantes para ajudar a direcionar questões como capacidade de produção, logística, mão de obra e pesquisa para uma equação que encontre uma solução: os aspectos burocrático e fiscal.
Os negócios da Economia Verde demandam novas soluções para um mundo de baixo carbono, que, por sua vez, dependem que os mais diversos atores, governamentais e sociais, sejam capazes de acompanhá-las de forma igualmente inovadora.
No Brasil, ainda é preciso considerar que pequenos e médios produtores rurais podem ser aliados na conservação e regeneração, que toda propriedade rural tem áreas de proteção permanente e de reserva legal, que há pastagens improdutivas que podem ter arranjos integrativos com a floresta e que há unidades de conservação privadas e sob responsabilidade dos poderes públicos federal, estadual e municipal. Ou seja, são muito diversas as configurações que uma floresta brasileira pode estar inserida. Essas peculiaridades precisam ser reconhecidas e compreendidas para que seja possível criar um ambiente que se adeque à emergência que o aquecimento global impõe e facilite o desenvolvimento de uma cadeia regenerativa, como já feito anteriormente com outras cadeias produtivas. Mas, para isso, é preciso arranjos institucionais que destravem processos com foco em escala!
Para o planeta, as florestas ainda são a forma que se conhece mais eficiente e barata para estocar e capturar carbono. Também são elas que nos garantem a segurança hídrica e ajudam a regular os volumes de chuvas, entre outros diversos serviços ecossistêmicos. Para além de “achismos”, o fato é que conservar e ampliar as florestas e sua biodiversidade contribui significativamente na mitigação de desastres naturais, sociais e econômicos. É urgente um olhar e ações nesse sentido, pois a resposta está, sim, na natureza.